aprendendo

20 novembro 2015

da ingovernabilidade geral com o ctrl-c ctrl-v

      A internet ganhou. Fim de papo. O Obama já havia sido eleito pelo Twitter, só isso. O maior mandatário do maior país do mundo, pelo menos por enquanto, eleito pela net. Já era uma coisa muito forte pra se pensar no que vem por aí. E pra nós, moradores e frequentadores do terceiro mundo, ela, a rede, chega massacrando. Num país onde a educação, ou a falta dela, se nota a cada segundo, a rapidez de proliferação de ideias repetidas nela e por ela, a rede, é coisa insuportável. Se essas ideias não vêm de um lugar de estudos, lugar de ciência, lugar de cultura, o que parece ser muito provável pela falta de educação referida, deve ser uma ideia no mínimo questionável, muito provavelmente duvidosa sob seus aspectos inteligentes. Então, porque repetí-la? Mas algo acontece nos nossos corações que quando cruzamos a avenida do Face, do Twitter, do Instagram, do Whatsapp ficamos com uma vontade insaciável de parecer informados, cultos, inteligentes e aí vai: ctrl-c ctrl-v. Ou se preferir: "encaminhar", "curtir"'. Pronto sou um cara integrado, sou culto, sou foda. Nem ao menos temos a sensatez de ler, refletir, entender e validar o que está alí. O mais importante é parecer que sou um cara da turma, "tô dentro".
     Infelizmente uma má notícia: isso faz parecer que essa pessoa é um estúpido maior do que é realmente, em tese. Isso um macaco ou um papagaio faz muito melhor. Com maior habilidade e naturalmente, sem teclado. O que nos distinguia dos animais até a chegada da net era a nossa capacidade de refletir. A reflexão nos levava a lugares, talvez, melhores. Talvez, porque nos levou a desenvolver a net. Um paradoxo. Esse comportamento de repetir as coisas tem transformado a sociedade num tribunal a céu aberto e a balança torna-se muito instável. Qualquer deslize que caia na rede é julgado e condenado em minutos. Fim dele.
     Assim, caro Obama, da mesma forma como ela lhe elegeu está lhe tirando o sono. Não haverá homem, instituição que resistirá a esse tribunal que se transformou o mundo. Censura é saída? Ou é a entrada em um grande obscurantismo medieval? Como sair dessa se a insensatez perdeu o freio? Em nosso país tudo é culpa de uma pessoa que está sendo julgada em todos os quinhões do reino. Culpada ou não de certas coisas, é impossível ela se mover para o bem  ou para o mal. Dá-se a impressão de que morta a Inês, tudo será resolvido em um passe mágico. Uma ilusão absurda em que ninguém mais infere na consequência desses atos. Automatic mode on. Chaos mode on.
     Além do mais as regras a serem obedecidas e politicamente corretas passaram de um ou dois artigos para centenas deles, com parágrafos, cláusulas, itens e emendas. Quem consegue cumprir? Quem consegue escapar? Para errar ficou molinho. É só tentar fazer algo e pimba. Errou. Vai pra rede de julgamentos e está pronto o veredito: "culpado".
     A ingovernabilidade do mundo é só uma questão de tempo. Pelos menos democraticamente. Isso é um beco que nos leva a regimes de exceção, com salvadores da pátria e ditadores ideológicos, militares, religiosos e o escambal. Nos leva a um túnel escuro e sombrio sem saber seu comprimento.
    Para se reestabelecer uma certa ordem se deveria educar as pessoas fortemente. Fazê-las pensar. Não me parece ser o caminho que seguimos. Quem está com o osso não quer largar e quem quer chegar a algum lugar só visa o osso. É o mundo do ter e do parecer ser. Fim dele para as pessoas de bem.

08 novembro 2015

O terceiro setor, a esmola e os políticos.

     Começo aqui dizendo que este meu comentário não é lição de moral, muito pelo contrário, é um desabafo e confissão da própria mesquinhez, mas não antes de esclarecer um pensamento.
     Outrora tinha-se a ideia de que a classe dos cobradores de impostos estava entre as piores, ou era a pior, entretanto, a concorrência do mundo moderno por esse regozijo alterou um pouco essa classificação. Hoje temos a noção de que os cobradores de impostos levam o fruto de seus objetivos aos mandatários do poder e esses, sim, têm a obrigação de distribuir essa renda da melhor maneira possível de forma a equilibrar a sociedade vítima de suas naturais, ou não, distorções.
     Os poderosos de antes eram mais identificáveis, pois eram normalmente indivíduos revestidos da faculdade de mandar sozinhos em uma parte do mundo. Atualmente, esses mandatários não são mais indivíduos e, com a democracia instalada em boa parte do mundo, agora são coletivos de pessoas que repartem com seus pares as várias jurisdicões de poder. Assim, descobriram eles o privilégio de sua não identificação, devido a confusão de jurisdições criadas. Ninguém identifica quem manda e, portanto, podem abusar dos privilégios sem que ninguém saiba, ou pelos menos por um tempo, distribuindo a renda que os cobradores de impostos lhe trouxeram da maneira que bem entendem, ou pelos menos por um tempo. Assim, essa classe, denominada política, no meu modo de ver, roubou o título dos cobradores de impostos, que por sinal, também, mudaram de nome para melhor parecerem.
     Dentre a classe política podemos escolher quem é o pior e habitualmente se escolhe o mandatário maior para representar a classe: o presidente. Contudo eu escolho o menor, pois ele é o mais próximo de ver a desigualdade em andamento. Fica mais próximo ao povo, faz mais parte dele e, todavia, pratica a política da escassez, da desigualdade e da discórdia. Claro, nem todos são assim, mas eu aponto para o cargo de vereador. Falo daquele vereador ruim, improbo, imoral e antiético. Se eu escrevesse a Bíblia hoje trocaria os cobradores de impostos por esses vereadores no texto. Fácil assim.
     O desequilíbrio gerado e mal gerido pelos políticos não corrijem, e até criam, as distorções provocadas pela má distribuição de renda e fez, não de hoje, com que pessoas filantropas tentassem a sua maneira reestabelecer ou compensar algumas disparidades da sociedade. Fundaram creches, asilos, abrigos, etc., assim criando o que modernamente chamamos de terceiro setor. Por força do hábito em melhorar as coisas esses, filantropos, forçaram aqueles, políticos, para que constituissem leis que garantissem ao povo seus direitos essenciais como nascer, viver, morrer, morar, estudar, ter saúde, enfim, terem assistência do governo em seus direitos básicos para que os impostos arrecadados fossem distribuídos a esses setores essenciais por força da lei.
     Pois bem, ainda hoje, em plena idade de alta tecnologia, os políticos insistem em ser o piores. Lutam e relutam quando o dinheiro tem que ir para esses setores. Usam de todos os recursos legais ou escusos, obscuros em como ficar com o dinheiro para ser empregado em seus desejos, as vezes os mais fúteis possíveis. Aí entra aquela figura política a que me referi e, em vez de apoiar o povo, apoia os desejos de seus comparsas.
     Assim o terceiro setor, por desunião ou fraqueza de seus colaboradores, ou ignorância de seus direitos continua interminavelmente a passar o chapéu pela sociedade para arrecadar dinheiro extra para continuar a assistir os serviços sociais desprovidos e desamparados à margem do olhar público. Um dinheiro extra, porque o não extra já está com o mandatário que não entrega, ou obstina-se a isso. Portanto, enquanto o terceiro setor não se unir, fortalecer e se capacitar continuará assim existindo em seu contra-senso. Contra-senso, porquanto seu fortalecimento será sua própria extinção, visto que o poder público cumpriria suas obrigações e não seria necessária sua existência.
     E por que minha confissão de mesquinhez? Porque, por esse princípio citado, sou contra o passar chapéu, sou contra a esmola, é obrigação governalmental cuidar do povo em suas necessidades básicas. É constitucional.
    Estou conversando com um amigo e passa um pedinte, morador de rua, e pede-me uma ajuda para comprar uma salsicha para seu cachorro. Nisso sobe aos meus pensamentos os princípios citados e meu julgamento sobre o sujeito e se sua aplicação do dinheiro, se realmente a dita e não a "marvada" pinga. Puro preconceito repugnante que tanto combato, mas acabo praticando em me levando por ele. Dei-lhe umas moedas insignificantes que tinha no bolso, contrariando tudo, princípios e preconceito. Pensei em lhe dar mais, tinha, mas a burra incoerência de minha humanidade não permitiu. Eis que ele passa de volta alimentando o pobre cão faminto com uma salsicha conseguida no açougue ali perto. Picava aos poucos entre seus dedos sujos de terra e dava ao cachorro que felizes sorriam um ao outro. Me senti um verme, um vereador.