aprendendo

14 maio 2016

O demo que mora em mim.

      O demo que mora em mim é o demo crático. Com tudo o que temos passado no Brasil ponho-me a policiar meus pensamentos e concluo que para viver nesse mundo haveria de ser de outro mundo. Ter amigos sem dar muito significado às suas ideologias para poder mantê-los nas conversas insignificantes e rir. E acho que isso sirva pra eles também quanto a mim. Enfim, pra ser feliz há que ser um burro surdo e passivo, ou fingir ser.
      Acho que nem sempre fui de esquerda, ou nem sabia se isso existia quando jovem, ou nem importava pra mim, mas hoje que me importo, se fosse me rotular, me rotularia um "do contra". Com o significado de esquerda popular, do menor. Não aquela esquerda intelectualizada das universidades. Aquela de boteco.
      E assim pensando acho que o que temos no momento é uma ridicularização maior que todas do regime institucional, se é que tinha,  pelo visto não. Ouço e leio que o Brasil é instável constitucionalmente, mas creio que é justamente o oposto. Sua mudança ou desobediência à constituição não muda. É muito seguro dizer que um regime de governo não se mantenha por muito tempo, pois a regra é subvertê-lo assim que uma classe dominante perca suas regalias e reaja para mudá-la. Não precisa justificativa, não gosta e pronto.
E agora novamente mudou e  "temos um longo passado pela frente" como disse Millor.
      A esquerda brasileira, a que foi ao poder, foi safada em seus vários sentidos. A princípio safada no sentido de dissimulada para obter adeptos, depois no trono no sentido furtivo de se livrar dos compromissos, ai no sentido de trair seus adeptos e depois no sentido de furtar e se locupletar. Tornam-se de direita no pior de seus atributos. Essa esquerda não é a minha certamente.
      Após a ditadura de 64 a esperança da esquerda foi depositada em FHC, que se tornou neoliberal de direita e Lula, um egoico, que praticaram tal caminho e acabaram decepcionando ao final. O que se passa agora é um fortalecimento dos pensamentos de direita beirando o extremo fascismo em parte de seus sequazes e um total desmantelamento da esquerda sem ninguém que se apresente para representar uma facção limpa. Esse crescimento foi estimulado muito pelo fracasso "esquerdista" em executar seus planos e se corromper com o poder.
      O Partido do Trabalhadores, que encarnou o papel da esquerda nos últimos anos, tem sua base nas classes trabalhadoras, mais baixas e muito espalhada pela sociedade, diferentemente da direita. Assim que foi ao poder levou consigo, como dívida e compromisso, essa galera para os cargos possíveis nas diversas hierarquias públicas, pois não pode, ou não quis escolher o melhor na diversidade restante dos partidos e sim somente em quem os apoiou. E se deu muito mal com isso, pois a incompetência e os mal elementos infiltrados no seu meio se aproveitaram da oportunidade para meter os pés pelas mãos e estragar com tudo construído a duras penas.
      Assim, os da direita vem à tona, como sempre desde nossas origens no descobrimento, com suas proposta e a sociedade reage os apoiando como uma massa movida por meios de comunicação favoráveis à mudança por seus próprios interesses particulares como já havia feito antes. E essa mudança se faz, como disse, da forma como convier aos seus propósitos sem se importar se democrático ou não, mantendo a regularidade em subverter.
      Não creio que isso mude para que eu possa ver tamanha a imensidão e profundeza dessa ideologia impregnada na alma brasileira de achar tudo normal. Achar ponderável o imponderável. Negociar o inegociável. A liberdade custa muito caro e é rara na natureza. Dá a impressão de ser farta quando se tem, mas é como a água. Quando lhe falta é que se consegue dimensionar o alcance de sua importância para a qualidade e conforto em nossas vidas.
      O Brasil deveria ter como sua única prioridade acabar com a desigualdade e esse caminho fica à esquerda. Ela, a desigualdade, destrói tudo o que se planeja para uma sociedade que quer ser melhor. Ela guarda no seu bojo a ignorância e não permite acesso ao saber, ao discernir, ao escolher melhor, ao decidir seu futuro. Essa desigualdade não acaba em passe de mágica, seu fim precisa ser estabelecido nas mentes dos brasileiros antes de tudo e precisa ser fomentado por quem está no poder, e o pensamento de direita em seu cerne não pensa assim, não trás isso consigo. Isso não vejo e, talvez, não veja (sem trocadilhos). Colocaram uma enorme placa "proibido conversão à esquerda" logo a frente de nosso caminho.