O CAPITALISMO NO SISTEMA DE SAUDE E O PREÇO DA DROGA

Consumo dois remédios para controle de hipertensão arterial: maleato de enalapril 10 mg e besilato de anlodipino 5 mg. Outro dia em Araraquara estacionei bem fronte a uma farmácia e resolvi especular o preço dos mesmos, pois estavam prestes a acabar e precisava repor. Antes, porém, esclareço que esses remédios podem ser adquiridos gratuitamente no posto do SUS, mas tem um processo a enfrentar. Aliás, podem ser dois: o primeiro é através do seu médico pedindo-lhe a abençoada receita todo santo mês para poder apresentá-la; o segundo é passar por um médico em um PAS que lhe encaminhará para um especialista do SUS que fará os exames necessários para lhe conceder a permissão para a retirar o remédio na farmácia do sistema por tempo indeterminado [ainda não tive saco pra isso, mas vou fazer]. O primeiro processo sofreu um revés: os médicos agora, sabendo dessa história, estão cobrando uma consulta para lhe dar a receita. Acharia justo caso não fosse cliente assíduo e fiel dele, mas... Então, precisamos fazer contas de viabilidade econômico-financeira para verificar a vantagem desse pagamento. No meu caso, como o custo do remédio é baixo [veremos!!!], não compensa pagar consulta todo mês [a receita só é válida por 30 dias para o SUS].

Voltando à farmácia. Os preços estavam 1/3 do que normalmente pago e comprei logo um estoque para seis meses. Fiquei “estupefato” com isso. Resolvi pesquisar na net se aquilo era uma aberração ou se tenho pagado caro nas farmácias que freqüento. Constatei que as farmácias que compro têm seus preços dentro da normalidade, contudo na pesquisa percebi que a mesma substância ativa chega a variar de preço em até 500% entre laboratórios. Enfiado nesses números acabei indo para o Excel, lógico!

Sabem quanto custa o quilo da mistura dos remédios que tomo? R$ 52.870,00 a mistura dos dois sais comprando do mais barato. Mais barato???  Quanto custa um quilo de cocaína [nem sei se é a droga do mercado concorrente mais cara!]? É obvio que não tomarei um quilo ao longo de minha vida de hipertenso, uma fração disso, aproximadamente140 g, considerando tomar dos 50 aos 75 [idade que o INSS espera que eu morra!]. Isso vai custar R$ 7.200,00 de remédio até morrer.

Olha que eu escolhi tomar esses por ser o mais barato e creio que o SUS também pense assim pra distribuir remédios. Já pensou os caras que tomam dos mais caros? A média das pessoas talvez pague mais que isso.

O Portal da Saúde do governo (http://tinyurl.com/64mh9as) diz que 24,4% dos brasileiros são hipertensos e o IBGE (http://tinyurl.com/397ghhe) afirma que pelo censo 2010 a população do Brasil é de 190.732.694 pessoas. Portanto há 46,5 milhões de hipertensos no país que pagarão, se durarem o mesmo que eu [rsrs], 340 bilhões de reais aos laboratórios. É pouco??? .

PS: uma amiga fez um comentário pertinente sobre os medicamentos para hipertensão:
'...não sei se vc já usou os serviços da Farmácia Popular. A Receita com os medicamentos que compõem a 'cesta dos medicamentos popular", tem validade por um ano.  Caso vc nunca tenha utilizado esse serviço , experimente usar. Até parece que estamos num outro país. Você tem atendimento individualizado, com ar condicionado, com lugar para estacionar, etc. Há pouco tempo eu comecei a usar esse serviço e estou achando ótimo, e você paga por isso 1% do valor do custo do medicamento. Eu costumo pegar medicamentos  para seis meses e pago por volta de R$5,00. Lembrando que a receita tem validade por um ano, e pode ser de médico da rede pública ou particular. A Farmácia Popular em Jáu fica no início da rua Marechal Bitencourt.'
Resolvi postar o comentário que por ignorância e esquecimento sobre a Farmácia Popular, não coloquei no texto acima, mas que mesmo assim não invalida minha indignação sobre os valores envolvidos com laboratórios.