aprendendo

23 março 2020

Já era, perdemos.

Acredito que chegamos num tempo onde o que Nassim Nicholas Taleb escreveu em seus livros, Cisne Negro e Antrifrágil, começa a ter uma aplicação prática em nível mundial. Estamos diante do inesperado, da incerteza, de um fato novo que não havíamos dado conta que pudesse ocorrer do tamanho que se mostra. Um monstro invisível avassalador, democrático, que atinge a todos e que nos exige uma prova de solidariedade, que se vê cada vez menor no mundo. Uma situação cujo controle depende de cooperação, compreensão e altruísmo de todos. Não temos isso. Uma boa parte da humanidade ainda acredita que a aniquilação dos menos aptos é uma opção para uma espécie melhor de sapiens, e que vê nesse caos que se apresenta a chance de realizar suas expectativas.
Tenho certeza que depois dos eventos mais incisivos dessa pandemia, quando se retornará a uma nova normalidade, já que a velha normalidade não será mais possível, o mundo será outro. A nova normalidade será obrigatoriamente recheada de novos comportamentos e novos olhares sobre o como se precaver de crises como esta.
A meu ver tornou-se claro que o liberalismo desenfreado que quer se infiltrar em todos os setores sociais não poderá se sustentar sob pena de infligir um custo enorme para todos. Alguns setores, como de saúde pública agora exposto a um ataque terrível, se mostram frágeis demais para serem largados à liberalidade econômica. Terão que ser revistos sob pena de falirmos como organização, terão que ser socializados, compartilhados, sob a tutela dos governos. Não há como o setor privado gerenciar um problema de âmbito global da magnitude que se apresenta. Sistemas de saúde no mundo todo escancararam seu despreparo para o enfrentamento mínimo dessa crise. Os países têm que aprender com esse novo paradigma.
Aí eu penso no meu país. Quando jovem, seria o futuro um lugar onde eu veria meus sonhos concretos. Cidade linda, cheia de jardins bem cuidados, todos bem de vida, saúde sobrando, viajando por meios confortáveis, e todas essas coisas que todos sonham. Não sonhava com a comunicação do jeito que é. Não tive esse discernimento, estaria rico. Mas, também, não caberia imaginar, jamais, dentro dos meus sonhos, uma escrotice de país como agora. Nem de longe poderia imaginar estar chafurdando num lugar onde pessoas, as piores possíveis, estariam guiando essa absoluta súcia rumo ao caos. Zumbis atendendo ao apito do pastor rumo ao abismo sem fim.
Se por um lado de novo sonho com a mudança de paradigmas numa era pós pandemia, por outro espero me decepcionar com meu país que não aprende nunca. O país que se proclamava o mais esperto do mundo revela-se dos piores. Brota das entranhas dos "nascidos de bem" a mais torpe podridão. Um vômito nazi-fascista que mancha boa parte meridional de nosso mapa, arrebanhados por um obtuso e incapaz de qualquer ação que seja minimamente sensata em relação a qualquer coisa necessária. Aqui sofreremos muito além do devido. Só me conforto em meu desespero, este, talvez, em redenção aos pecados que todos nessa pátria tenham cometido. Chegaremos ao céu limpos como bunda de anjo.

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