aprendendo

04 novembro 2022

Minha viagem ao inferno

Enviado ao inferno, por conta de uma imersão em conversas cotidianas, não pensava ser tão fácil o caminho. Achava que deveria cometer certos crimes ou desobediências éticas e morais para que fizesse por merecer encontrar-me em meio às trevas junto ao chifrudo malfadado. Se tenho cometido erros graves em minha estadia nesse cosmos, esse engano foi o maior.

Não será necessário que se cometa crimes, pois mesmo quem os comete fisicamente, não terá essa punição se não passar pelo processo que passo, em sua própria mente. Me deixei levar às escadas abaixo por conta de tentar entender o homem e suas irracionalidades. Não me fica claro como este exemplar animalesco procede tão mesquinhamente com seu cérebro, antes para mim supostamente proprietário de certa racionalidade. Imaginava que algumas incoerências eram meras dissonâncias cognitivas, frutos de um raciocínio mal formulado, ou má formação psicológica vinda de desajustes emocionais do passado, essas coisas metidas com o ambiente experimentado.

Vejo agora como foi que povos inteiros, com pessoas obviamente iguais a todos do planeta, embarcaram em uma nau dirigida por loucos. E tentar entendê-los fica mais claro vivendo, não os loucos, pois eram loucos, presenciando uma semelhante nau passar com outros dentro indo na mesma direção. Entrelaçado a bombordo, pelo lado de fora, observo as loucuras lá dentro. Estupefato, numa mistura de descrença nos próprios olhos, intolerância e nojo, recebo os dejetos da escória a bordo. Sentindo-me enroscado às cordas da nau me arrasto junto ao caminho do inferno. Minha mente me trai e volta sempre o olhar para dentro, difícil me distrair com o mar à volta, que me banha e tira o excremento recebido. O absurdo do comportamento coletivo dos néscios a bordo, com preferência clara por vômitos a estibordo, sentido em navega a nau, obscurece a visão da horda que vai. O comando grita qualquer insensatez vinda de uma tela formulada em um gabinete subsidiário dos quintos e os ineptos se refestelam em uma insana balbúrdia.

Sim, estou preso a isso. Me levo às profundezas mais horríveis que conheci desde sempre. Minha mente precisa de uma boia que passe ao largo dessa nau para que me desvencilhe das amarras. Inútil convencê-los do retorno que tentei. Mais engalfinhado e sujo fiquei. Preciso de socorro. Precisamos todos.

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