aprendendo

04 novembro 2022

Minha viagem ao inferno

Enviado ao inferno, por conta de uma imersão em conversas cotidianas, não pensava ser tão fácil o caminho. Achava que deveria cometer certos crimes ou desobediências éticas e morais para que fizesse por merecer encontrar-me em meio às trevas junto ao chifrudo malfadado. Se tenho cometido erros graves em minha estadia nesse cosmos, esse engano foi o maior.

Não será necessário que se cometa crimes, pois mesmo quem os comete fisicamente, não terá essa punição se não passar pelo processo que passo, em sua própria mente. Me deixei levar às escadas abaixo por conta de tentar entender o homem e suas irracionalidades. Não me fica claro como este exemplar animalesco procede tão mesquinhamente com seu cérebro, antes para mim supostamente proprietário de certa racionalidade. Imaginava que algumas incoerências eram meras dissonâncias cognitivas, frutos de um raciocínio mal formulado, ou má formação psicológica vinda de desajustes emocionais do passado, essas coisas metidas com o ambiente experimentado.

Vejo agora como foi que povos inteiros, com pessoas obviamente iguais a todos do planeta, embarcaram em uma nau dirigida por loucos. E tentar entendê-los fica mais claro vivendo, não os loucos, pois eram loucos, presenciando uma semelhante nau passar com outros dentro indo na mesma direção. Entrelaçado a bombordo, pelo lado de fora, observo as loucuras lá dentro. Estupefato, numa mistura de descrença nos próprios olhos, intolerância e nojo, recebo os dejetos da escória a bordo. Sentindo-me enroscado às cordas da nau me arrasto junto ao caminho do inferno. Minha mente me trai e volta sempre o olhar para dentro, difícil me distrair com o mar à volta, que me banha e tira o excremento recebido. O absurdo do comportamento coletivo dos néscios a bordo, com preferência clara por vômitos a estibordo, sentido em navega a nau, obscurece a visão da horda que vai. O comando grita qualquer insensatez vinda de uma tela formulada em um gabinete subsidiário dos quintos e os ineptos se refestelam em uma insana balbúrdia.

Sim, estou preso a isso. Me levo às profundezas mais horríveis que conheci desde sempre. Minha mente precisa de uma boia que passe ao largo dessa nau para que me desvencilhe das amarras. Inútil convencê-los do retorno que tentei. Mais engalfinhado e sujo fiquei. Preciso de socorro. Precisamos todos.

28 junho 2021

Um caso lazarento.

Não acompanhei de perto. Nem sei ao certo o que o assassino perseguido fez. Me apareceu mais memes do que notícias reais do caso. Entretanto me mostrou muito claramente mais do mesmo: o quão desumana se torna a humanidade a cada dia que passa. Torço, do fundo do meu, para ser um viés de generalização que esteja me deixando cego e esteja enxergando só o lado obscuro das almas que andam pela terra nesse momento. Fico me perguntando qual é a diretriz passada a um policial para com esse tipo de caso, em sua formação. O que apregoam nos quartéis quanto ao aprisionamento de um bandido. Ensinam às pessoas que se tornam policiais que devem julgar o comportamento do bandido e realizarem por sua própria conta a execução da pena? Sei que vão dizer agora que eu gosto do bandido, defensor dos direitos humanos, que eu leve ele pra morar comigo, e esse tipo de coisas que sempre vem a tona quando se questiona a eliminação  "justa" de um bandido da sociedade. Quantos tiros são necessários para a captura do homem? São necessários tiros para a captura? Que treino é feito para que não se capture o homem vivo? Qual o sentido e o motivo de atirar a décima bala? Existe pena de morte no regulamento militar que possam usar ao seu bel prazer? A Justiça Oficial não serve? As leis não servem? Há uma lei diferente que funciona na captura? Qual é o limite de um crime em que o policial pode atirar pra matar ou prender? Ele que define isso? Quem lhe deu essa prerrogativa?

Deixando de lado essa linha de questionamento, tenho outra. O exibicionismo nas redes sociais da truculência policial faz o mundo ficar mais seguro? Fica melhor filmando a forma com que é tratado o morto e todo o seu corpo cravejado de balas? Nos faz ter mais confiança na polícia vê-los usando brutalmente o mesmo método do bandido, se vingando no mesmo do vexame que foi não ter realizado seu papel de pessoas responsáveis por manter a ordem e a segurança de uma maneira razoável?

O público das redes, ah! o público das redes e dos memes, vai fazer uma nova turma de heróis desfigurados pra contentamento dos gostos por uma falsa ideia de que tudo continua normal. Afinal o bandido pagou seu preço e fica tudo por isso mesmo.

22 novembro 2020

Fui covidado pra zorra.

Começou assim: sexta 13, final de tarde, meu corpo deu sinal de algo errado. A garganta começou a raspar e uma tossinha seca a cada tanto. Levantei a lebre e fiquei antenado. Sábado de manhã não passou e uma médica auscultou meu pulmão, que estava limpo, entretanto pedi a ela a receita da azitromicina. Como minha filha havia tido suspeita e o médico pneumologista havia lhe receitado como suporte a doenças marginais, segui o roteiro. Comecei a tomar, junto com prednisona, outro remédio que constava da prescrição, à tarde pois minha temperatura foi a 37,5°C. Tomei aspirina C para a febre e para o sangue, por conta. Isolei-me da família, em meu quarto a a partir de então.

Segunda fui ao médico pneumologista, que me examinou e estavam as medições dentro dos parâmetros esperados. Como não tinha falta de ar, solicitou o exame do coranavírus PCR, o do cotonete, e uma radiografia dos pulmões e face e retirou a prednisona que tomava. Tiramos as radiografias de imediato. Minha mulher me acompanhava e também foi examinada e seguiu os mesmo procedimentos de exames. Ela nada sentia.

Terça 17, começou uma leve dor no corpo e um desconforto como uma gripe. 

Quarta 18 fizemos os exames de Covid e prontas as radiografias levei-as ao médico, que as examinou, mediu novamente minha oxigenação e estava tudo normal. Orientou-me que se tratava, aparentemente de um caso leve e que deveria procurá-lo imediatamente caso sentisse falta de ar. Chegou uma canseira pra tudo. Foi-se o apetite, nem jantei, ansiedade nível 100%.

Quinta 19 desapareceram o olfato e o paladar logo de manhã, aparentemente o pior sintoma da doença leve, fora o cansaço. Tomei o último comprimido de antibiótico. Tive diarréia.

Hoje, domingo 22, continuo igual. Temperatura chegando a 37°C a tarde nesses dias. Tomei Tylenol Sinus (paracetamol com pseudoefedrina) para aliviar os desconfortos musculares e a "febrinha". Até 37,5°C não se considera febre ainda. Tomei todos os dias 3g de vitamina C, 15000 UI de vitamina D, aspirina C com suco de limão, gengibre, açafrão, mel e própolis. Mais vários gargarejos diários com Listerine. Por conta.

Perdi cinco quilos desde sexta-feira. O resultado do teste ainda não saiu. Incrivelmente lento para a situação que vivemos. O mundo realmente não está preparado.

De onde isso veio? Não sei. Tomei os cuidados como máscara, distanciamento, não estive em nenhum momento com mais do que quatro ou cinco pessoas distanciadas, com máscaras, álcool gel, lavando as mãos, etc. Achava a probabilidade de contágio baixíssima com isso. Não foi. Me pegou. Distrai-me em algum momento e de alguma forma. confiei na probabilidade, logo ela. Tenho o hábito de tocar o rosto e enfiar o dedo no naso, também. A capacidade de contágio desse vírus é extraordinária ao mesmo tempo que curiosa. Como algumas pessoas pegam e outra não na mesma situação? Isso tem intrigado médico e pesquisadores e ainda não sabemos como, quem sabe um dia.

A devastação psicológica é o pior pra mim. Minha mãe pariu um volume de ansiedade e deu meu nome. A expectativa da próxima respiração, da próxima tosse, da próxima engolida, me extenua de arrancar as últimas energias de vigor que tenho. Sinto vontade de me entregar de vez, sem que a doença tenha feito sequer uma grande ameaça. Em minha mente há uma rotina de exame corporal que nem um escaneamento tomográfico faz. Sinto cada célula gritando socorro.

Cuidem-se. Não deseje isso pra você nem pra ninguém. Não desafie isso. Não dissemine, ajude a combater. Informe quem possa. Não é uma questão de crença, em acreditar ou não, é fato. É científico. É real.

16 maio 2020

Incapazes de razoabilidade

Outro dia li mais ou menos isso em Pedro Cardoso: "...dar-lhes a oportunidade de se manifestar é admiti-los capazes de razoabilidade, ..." Pensei muito sobre isso. Como mudar as coisas sem confronto? E confrontar muda o outro? Nos convencemos do contrário, seria razoável para quem?
Aos meus amigos que, por ora decidi não confrontar, tenho a dizer que se pensam que todas essa vidas que se vão não importam mais do que o dinheiro que ganham, sua vidas está sendo em vão. A única razão que entendo que lhe fez nascer foi para viver. Não veio com dinheiro, veio com vida. Nu e vivo. E acredito que Criador o fez para preservar Sua própria permanência como manifestação de vida, como consciência viva, representando-Se nesse universo percebido parcialmente. Mas isso parece não importar.
Em outra face temos a ciência tornando-se uma questão de fé, de acreditar nela ou não. Uma loucura medieval. Pessoas sem a menor formação e estudo ocupando lugares técnicos e emitindo opiniões tresloucadas sobre o que absolutamente jamais haviam visto, ouvido ou lido sobre. Paraquedista meia boca receitando medicamento que não sabe nem o que significa e pra que serve. Indicando procedimentos para aumentar a imunidade com simpatias da tia benzedeira.
O judiciário sendo político, o congresso operando verba e o executivo legislando e fazendo recomendações religiosas e de fé. É o caos à frente das ações governamentais. As instituições entrelaçadas num emaranhado quântico.
E eles defendem com argumentos, se é que se pode chamar assim, essa loucura.
Incapazes de razoabilidade. Onde arrumam tamanha convicção sem a menor prova. Fatos inventados sem o menor sentido são guias para milhares deles. Opinião virou fato. Convicção virou prova. Uma insanidade que nem em sanatório se acha. Como tenho lido, no fundo desse poço tem um alçapão. E esse alçapão tem sobrenome e família.

29 março 2020

Um ser vivo arrogante.

Insolente e arrogante o homem se posiciona perante um ser, umas moléculas de RNA, que nem vivo é, como se pudesse enfrentá-lo de peito aberto e com toda sua superioridade inteligente. Essa inteligência tem um limite, e dos grandes, em relação ao entendimento dessa luta contra esse serzinho minúsculo. Nem de longe sabemos como destruí-lo, assim, como poderia ser inteligente desafiá-lo, confrontá-lo? Essa burrice arrogante ganha as ruas como se um pau com uma bandeira na ponta fosse suficiente. Estupidez é que chama. Sem conhecer a si mesmo tenta derrotar quem nem conhece e nem vê. Essa luta já tem um vencedor pré-declarado. E não é o insolente e o arrogante, é o simples e minúsculo.

28 março 2020

Um vírus inteligente pra chamar de nosso.

Um vírus inteligente. O vírus adequado. O mundo de Darwin vai funcionando a pleno vapor pros vírus, tornam-se cada vez mais aptos a nos enfrentar. Esse novo descobriu algumas fórmulas de nossas fraquezas e começaram a operar. Se propaga nas brechas da ignorância. Conta com ela, com a ganância, com o egoísmo, com a mentira, e a adoração de ídolos e crenças. Ele descobriu como abafar a voz da ciência e ir direto a idiotice, contando com ela. Está quase certeiro dessa vez. Há tempo deve estar incubado esperando esse momento de Trumps, Bolsonaros e companhia pra se apresentar. Como a imbecilidade é infinita entre nós, vão aprender com isso, e a próxima cepa vai ser mais afinada. Vai descobrir o ódio, a intolerância e os preconceitos nessa empreitada e contará com eles na próxima mutação. Conte com isso. A ciência conta, mas a estupidez não. Por isso ele vencerá um dia. Nada mudará quando os leitos desocuparem. Voltaremos a ser o hospedeiro preferido da insensatez. Cofre de ignorância inesgotável.

23 março 2020

Já era, perdemos.

Acredito que chegamos num tempo onde o que Nassim Nicholas Taleb escreveu em seus livros, Cisne Negro e Antrifrágil, começa a ter uma aplicação prática em nível mundial. Estamos diante do inesperado, da incerteza, de um fato novo que não havíamos dado conta que pudesse ocorrer do tamanho que se mostra. Um monstro invisível avassalador, democrático, que atinge a todos e que nos exige uma prova de solidariedade, que se vê cada vez menor no mundo. Uma situação cujo controle depende de cooperação, compreensão e altruísmo de todos. Não temos isso. Uma boa parte da humanidade ainda acredita que a aniquilação dos menos aptos é uma opção para uma espécie melhor de sapiens, e que vê nesse caos que se apresenta a chance de realizar suas expectativas.
Tenho certeza que depois dos eventos mais incisivos dessa pandemia, quando se retornará a uma nova normalidade, já que a velha normalidade não será mais possível, o mundo será outro. A nova normalidade será obrigatoriamente recheada de novos comportamentos e novos olhares sobre o como se precaver de crises como esta.
A meu ver tornou-se claro que o liberalismo desenfreado que quer se infiltrar em todos os setores sociais não poderá se sustentar sob pena de infligir um custo enorme para todos. Alguns setores, como de saúde pública agora exposto a um ataque terrível, se mostram frágeis demais para serem largados à liberalidade econômica. Terão que ser revistos sob pena de falirmos como organização, terão que ser socializados, compartilhados, sob a tutela dos governos. Não há como o setor privado gerenciar um problema de âmbito global da magnitude que se apresenta. Sistemas de saúde no mundo todo escancararam seu despreparo para o enfrentamento mínimo dessa crise. Os países têm que aprender com esse novo paradigma.
Aí eu penso no meu país. Quando jovem, seria o futuro um lugar onde eu veria meus sonhos concretos. Cidade linda, cheia de jardins bem cuidados, todos bem de vida, saúde sobrando, viajando por meios confortáveis, e todas essas coisas que todos sonham. Não sonhava com a comunicação do jeito que é. Não tive esse discernimento, estaria rico. Mas, também, não caberia imaginar, jamais, dentro dos meus sonhos, uma escrotice de país como agora. Nem de longe poderia imaginar estar chafurdando num lugar onde pessoas, as piores possíveis, estariam guiando essa absoluta súcia rumo ao caos. Zumbis atendendo ao apito do pastor rumo ao abismo sem fim.
Se por um lado de novo sonho com a mudança de paradigmas numa era pós pandemia, por outro espero me decepcionar com meu país que não aprende nunca. O país que se proclamava o mais esperto do mundo revela-se dos piores. Brota das entranhas dos "nascidos de bem" a mais torpe podridão. Um vômito nazi-fascista que mancha boa parte meridional de nosso mapa, arrebanhados por um obtuso e incapaz de qualquer ação que seja minimamente sensata em relação a qualquer coisa necessária. Aqui sofreremos muito além do devido. Só me conforto em meu desespero, este, talvez, em redenção aos pecados que todos nessa pátria tenham cometido. Chegaremos ao céu limpos como bunda de anjo.

27 junho 2018

Antes que a tarde venha.

Não é agouro, nem praga.
Há uma frase atribuída a Vanderlei Luxemburgo: "O medo de perder tira a vontade de ganhar."
Acho que o medo do Seu Adenor lhe faz conivente com a escalação de um jogador que é desnecessário ao time. É necessário a si próprio. Seu Adenor já havia experimentado a satisfação da vitória com  a prova disso. Enquanto o dedo estava quebrado ia tudo bem, agora... Por que não o saca do time? A seleção é maior do que qualquer jogador. O que isso tudo significa? A necessidade de promover uma pessoa já super promovida? Oras Seu Adenor, crie coragem!
É de manhã que escrevo isso, nem sei do resultado contra a Sérvia, não sou bidu, mas se o desastre acontecer não me causará espanto. É previsível. Quando uma parte quer ser maior que o todo, ela se torna o todo. E essa parte é fraca. Fraca de caráter, não de bola. E o que o torna campeão é o caráter. Você pode até ser o vencedor, mas para ser campeão tem que ter algo mais. Coragem. É essa a mensagem a ser passada para um povo que está ruim de mensagens. Oras Seu Adenor, crie coragem!

15 janeiro 2018

Da inexorabilidade do dano.

Da inexorabilidade do dano.
Se preferir em Latim "dabo stercore".

O homem não muda é certo. Qualquer coisa que tenhamos deixado gravado desde sempre mostra nossa eterna incapacidade de mudar os próprios atributos: inveja, ganância, egoísmo, luxúria, preguiça, etc.. Todos os acontecimentos em escala que transformaram as sociedades saem dessas masmorras de nosso andar inferior da mente. E não entendo porque ainda existem indivíduos que contrariam essa perversidade natural, por que não nos  entregamos logo ao dark side e pronto? Foda-se. Acho que já merecemos o fundo do poço há algum tempo. Eu mesmo luto comigo uma luta infindável. Resisto aos meus instintos de "punisher", mas adoro ver gente ruim sofrer. Mas até que ponto essa gente ruim não é só ruim pra mim? Aí o cachorro corre atrás do próprio rabo.

Minha indignação não é a indignação de todos, entendo, mas alguma indignação deveria ser de mais, preferencial no que posso imaginar ser eticamente válida. Entretanto, não. Permanecem em um estado de ataraxia admirável que só um estoico puro desconsideraria os fatos contemporâneos, ou melhor, o sentido desse fluxo de insensatez que se mostra e se expõe exacerbadamente em todos os meios, sem uma reação real, física, legítima e contrária. Percebo que só a é quando lhes é pertinentemente egóica. Faz, talvez, parte daqueles predicados naturais citados e as corrobora. Natural como ela só. Quando de minhas indignações, que acho eticamente pertinentes, vejo nos rostos das pessoas aquele olhar de profundidade infinita, sabe-se lá o que significou aquilo. Certamente nada. Em seu cérebro cheio de lúpulo das sextas-feiras não há vagas a não ser para mais temulentas trovoadas neuronais. Se incomodam com as folhas que caem nas piscinas, mas não com as árvores que as produzem. Cortam-nas ao pé.

Aprendo, assim, da pior maneira, que tudo é o que é. Não mudamos nada. A vida nos aluga e nos usa pra mudar a si mesma. Somos umas pecinhas insignificantes de um grande jogo infinito e eterno. De geração em geração, sempre com uma nova tecnologia mais célere, caminhamos para uma coisa inimaginável transformista e descontrolada.

Pessimista? Eu? Pergunte aos dinossauros.

22 outubro 2017

Mérito


Ouvi o Mário C. Cortela contando uma história de um monge que distribuindo balas às crianças que o ouviam perguntou se elas queriam que as distribuísse à maneira de Deus ou dos homens. As crianças preferiram à maneira de Deus. Assim o monge começou a distribuí-las em quantidades aleatórias a cada uma que se apresentava. Admiradas, acharam que Deus havia feito de uma maneira injusta. Contestado, o monge ensinou que o trabalho de tornar aquilo justo seria delas, redistribuindo e repartindo igualmente entre elas. A parábola de Jesus sobre o dono da vinha que pagou os trabalhadores igualmente para diferentes números de horas trabalhadas expressa a mesmo modo de justiça divina.
A lógica do equilíbrio justo é humana e temporal, contida no mundo limitado de nossos egos materialistas. Não admitimos pelo conceito egoísta do TER. Dentro de nossos egos não concebemos esse conceito do desequilíbrio como forma de distribuição. É o cerne da questão do mérito. Ao mesmo tempo achamos que quando somos favorecidos ou não em algo, trata-se de justiça feita pelos nossos méritos, seja quais forem: esforço, inteligência, rapidez, força, e por aí vai.
Mérito vem do latim meritu, significando merecer, obter. Algo que torna alguém merecedor de prêmio ou castigo.
Não consideramos a aleatoriedade do nascer, como, quando, onde, quem, o que nascemos, dos acasos no desenrolar cotidiano da vida, enfim, na sorte da localidade no espaço-tempo da manifestação de nossa alma e corpo.  Como se pudéssemos escolher sobre tudo o que se passa conosco e fora de nós. Pura sorte.
Assim considerando o mérito não passa de uma desculpa para se aproveitar dessa sorte em detrimento alheio. Temos ao longo dos tempos humanos demonstrado, hora mais, hora menos, nossa perversa capacidade de subjugar os que não tem tanta sorte, pelo critério do mérito. Criamos toda espécie de preconceitos para nos estabelecer como superiores e aproveitar disso para um melhor conforto, como se o universo não nos desse a abundância necessária para todos. Usamos esse critério para avaliar de quem e do que cuidamos. Privilegiamos usando esse critério fazendo exatamente o que as crianças das balas questionaram. Continuamos a fazer como os trabalhadores da vinha. Evoluímos? Pra Buda, o único mérito possível é o da compaixão e do cuidar. Do mundo e dos outros. E me parece que para Cristo, também. Acho que meritocracia não foi o que ensinaram. Precisamos de um olhar divino para enxergar.

A seguir replico um texto de Luiz Nassif, muito pertinente.

"
a) A meritocracia propõe construir uma ordem social baseada nas diferenças de predicados pessoais (habilidade, conhecimento, competência, etc.) e não em valores sociais universais (direito à vida, justiça, liberdade, solidariedade, etc.). Então, uma sociedade meritocrática pode atentar contra estes valores, ou pode obstruir o acesso de muitos a direitos fundamentais.

b) A meritocracia exacerba o individualismo e a intolerância social, supervalorizando o sucesso e estigmatizando o fracasso, bem como atribuindo exclusivamente ao indivíduo e às suas valências as responsabilidades por seus sucessos e fracassos.

c) A meritocracia esvazia o espaço público, o espaço de construção social das ordens coletivas, e tende a desprezar a atividade política, transformando-a em uma espécie de excrescência disfuncional da sociedade, uma atividade sem legitimidade para a criação destas ordens coletivas. Supondo uma sociedade isenta de jogos de interesse e de ambiguidades de valor, prevê uma ordem social que siga apenas a racionalidade técnica do merecimento e do desempenho, e não a racionalidade política das disputas, das conversações, das negociações, dos acordos, das coalisões e/ou das concertações, algo improvável em uma sociedade democrática e pluralista.

d) A meritocracia esconde, por trás de uma aparente e aceitável “ética do merecimento”, uma perversa “ética do desempenho”. Numa sociedade de condições desiguais, pautada por lógicas mercantis e formada por pessoas que tem não só características diferentes, mas também condições diversas, merecimento e desempenho podem tomar rumos muito distantes. O Mário Quintana merecia estar na ABL, mas não teve desempenho para tal. O Paulo Coelho, o Sarney e o Roberto Marinho estão (ou estiveram) lá, embora muitos achem que não merecessem. O Quintana, pelo imenso valor literário que tem, não merecia ter morrido pobre nem ter tido que morar de favor em um hotel em Porto Alegre, mas quem amealhou fortuna com a literatura foi o Coelho. Um tem inegável valor literário, outro tem desempenho de mercado. O José, aquele menino nota 10 na escola que mora embaixo de uma ponte da BR 116 (tema de reportagem da ZH) merece ser médico, sua sonhada profissão, mas provavelmente não o será, pois não terá condições para isto (rezo para estar errado neste caso). Na música popular nem é preciso exemplificar, a distância entre merecimento e desempenho de mercado é abismal. Então, neste mudo em que vivemos, valor e resultado, merecimento e desempenho nem sempre caminham juntos, e talvez raramente convirjam.
Mas a meritocracia exige medidas, e o merecimento, que é um juízo de valor subjetivo, não pode ser medido; portanto, o que se mede é o desempenho supondo-se que ele seja um indicador do merecimento, o que está longe de ser. Desta forma, no mundo da meritocracia – que mais deveria se chamar “desempenhocracia” - se confunde merecimento com desempenho, com larga vantagem para este último como medida de mérito.

e) A meritocracia escamoteia as reais operações de poder. Como avaliação e desempenho são cruciais na meritocracia, pois dão acesso a certas posições de poder e a recursos, tanto os indicadores de avaliação como os meios que levam a bons desempenhos são moldados por relações de poder; e o são decisivamente. Seria ingênuo supor o contrário. Assim, os critérios de avaliação que ranqueiam os cursos de pós-graduação no país são pautados pelas correntes mais poderosas do meio acadêmico e científico; bons desempenhos no mercado literário são produzidos não só por uma boa literatura, mas por grandes investimentos em marketing; grandes sucessos no meio musical são conseguidos, dentre outras formas, “promovendo” as músicas nas rádios e em programas de televisão, e assim por diante. Os poderes econômico e político, não raras vezes, estão por trás dos critérios avaliativos e dos “bons” desempenhos.
Critérios avaliativos e medidas de desempenho são moldáveis conforme os interesses dominantes, e os interesses são a razão de ser das operações de poder; que por sua vez, são a matéria prima de toda a atividade política. Então, por trás da cortina de fumaça da meritocracia repousa toda a estrutura de poder da sociedade.
Até aí tudo bem, isso ocorre na maioria dos sistemas políticos, econômicos e sociais. O problema é que, sob o manto da suposta “objetividade” dos critérios de avaliação e desempenho, a meritocracia esconde estas relações de poder, sugerindo uma sociedade tecnicamente organizada e isenta da ingerência política. Nada mais ilusório e nada mais perigoso, pois a pior política é aquela que despolitiza, e o pior poder, o mais difícil de enfrentar e de combater, é aquele que nega a si mesmo, que se oculta para não ser visto.

e) A meritocracia é a única ideologia que institui a desigualdade social com fundamentos “racionais”, e legitima pela razão toda a forma de dominação (talvez a mais insidiosa forma de legitimação da modernidade). A dominação e o poder ganham roupagens racionais, fundamentos científicos e bases de conhecimento, o que dá a eles uma aparente naturalidade e inquestionabilidade: é como se dominados e dominadores concordassem racionalmente sobre os termos da dominação.

f) A meritocracia substitui a racionalidade baseada nos valores, nos fins, pela racionalidade instrumental, baseada na adequação dos meios aos resultados esperados. Para a meritocracia não vale a pena ser o Quintana, não é racional, embora seus poemas fossem a própria exacerbação de si, de sua substância, de seus valores artísticos. Vale mais a pena ser o Paulo Coelho, a E.L. James, e fazer uma literatura calibrada para vender. Da mesma forma, muitos pais acham mais racional escolher a escola dos seus filhos não pelos fundamentos de conhecimento e valores que ela contém, mas pelo índice de aprovação no vestibular que ela apresenta. Estudantes geralmente não estudam para aprender, estudam para passar em provas. Cursos de pós-graduação e professores universitários não produzem conhecimentos e publicam artigos e livros para fazerem a diferença no mundo, para terem um significado na pesquisa e na vida intelectual do país, mas sim para engrossarem o seu Lattes e para ficarem bem ranqueados na CAPES e no CNPq.
A meritocracia exige uma complexa rede de avaliações objetivas para distribuir e justificar as pessoas nas diferentes posições de autoridade e poder na sociedade, e estas avaliações funcionam como guiões para as decisões e ações humanas. Assim, em uma sociedade meritocrática, a racionalidade dirige a ação para a escolha dos meios necessários para se ter um bom desempenho nestes processos avaliativos, ao invés de dirigi-la para valores, princípios ou convicções pessoais e sociais.

g) Por fim, a meritocracia dilui toda a subjetividade e complexidade humana na ilusória e reducionista objetividade dos resultados e do desempenho. O verso “cada um de nós é um universo” do Raul Seixas – pérola da concepção subjetiva e complexa do humano - é uma verdadeira aberração para a meritocracia: para ela, cada um de nós é apenas um ponto em uma escala de valor, e a posição e o valor que cada um ocupa nesta escala depende de processos objetivos de avaliação. A posição e o valor de uma obra literária se mede pelo número de exemplares vendidos, de um aluno pela nota na prova, de uma escola pelo ranking no Ideb, de uma pessoa pelo sucesso profissional, pelo contracheque, de um curso de pós-graduação pela nota da CAPES, e assim por diante. Embora a natureza humana seja subjetiva e complexa e suas interações sociais sejam intersubjetivas, na meritocracia não há espaço para a subjetividade nem para a complexidade e, sendo assim, lamentavelmente, há muito pouco espaço para o próprio ser humano. Desta forma, a meritocracia destrói o espaço do humano na sociedade.

Enfim, a meritocracia é um dos fundamentos de ordenamento social mais reacionários que existe, com potencial para produzir verdadeiros abismos sociais e humanos.

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01 abril 2017

PEC com sabor de PQP

Vocês já leram a PEC da morte?

Eu li e faço aqui algumas considerações sobre alguns artigos que me atingem, sem ser um profissional do ramo, só um prejudicado a mais. Posso imaginar outros artigos que atinjam outras pessoas e estender isso ao universo do povo brasileiro e perceber o quanto é nocivo para nós essa PEC. Penso que em um mundo de gente cada vez mais velha deva-se estudar uma forma de adequar receitas e despesas do sistema previdenciário para que o Estado não colapse, mas tem que ser muito bem estudado. Não me parece que com tão pouco tempo de casa esse governo o tenha tido para fazê-lo. Me parece ser a toque de caixa para arrumar uma saída para seus próprios problemas, mais do que arrumar a casa de todos os cidadãos que vivem sob seu arresto.

Vamos ao artigo 201 - § 7º-B:

"- O valor da aposentadoria corresponderá a 51% (cinquenta e um por cento) da média dos salários de contribuição e das remunerações utilizadas como base para as contribuições do segurado aos regimes de previdência de que tratam os arts. 40 e 42 acrescidos de 1 (um) ponto percentual para cada ano de contribuição considerado na concessão da aposentadoria, até o limite de 100% (cem por cento), respeitado o limite máximo do salário de contribuição do regime geral de previdência social, nos termos da lei."

O que significa isso? Que se nos formarmos na faculdade (é o que se pretende de um jovem no futuro melhor que propoem, ou não?) com 21 anos e começarmos a trabalhar imediatamente teremos que colecionar ao longo da vida aqueles 1 (um) ponto percentual para cada ano de contribuição durante 49 anos para junto com os outros 51 e termos os 100% da aposentadoria no fim no nosso aniversário de 70 anos. Aos 70 anos você começa a desfrutar de todo o seu benefício de aposentado com seu cônjuge, aquela algazarra na vida tão sonhada por todos.

Mas, suponhamos que você não viva muitos anos mais. Isso não irá acontecer porque estamos falando de highlanders brasileiros que não sucumbem a qualquer idadezinha.

Porém, vai que aconteça e aí vem outro artigo 201 - § 16:

"- Na concessão do benefício de pensão por morte, cujo valor será equivalente a uma cota familiar de 50% (cinquenta por cento), acrescida de cotas individuais de 10 (dez) pontos percentuais por dependente, até o limite de 100% (cem por cento) do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se fosse aposentado por incapacidade permanente na data do óbito, observado o disposto nos §§ 7º-B e 7º-C, não será aplicável o disposto no § 2º deste artigo e será observado o seguinte: ..."

Tradução: seu cônjuge vai ficar com todos os 50% do que você recebia, isso se na hora da morte for seu dependente, que não recolhe e não trabalha, porque ele, cônjuge,  não precisaria trabalhar com a fortuna de aposentadoria que você recebia, convenhamos. Ah, tem mais! O acréscimo dos 10 (dez) pontos percentuais por dependente, também, se você for além de highlander um X-man para ter dependentes aos 70 anos. Assim, com metade do ganho, seu conjuge vai poder desfrutar tranquilo seus últimos anos, porque não terá a sua parte dos gastos na farra dessa vida.

E finalizando, nas justificativas do projeto, no título Introdução e questões demográficas nosso ministro Henrique de Campos Meirelles escreve:
"...
4. Em perspectiva, é importante registrar que a expectativa de sobrevida da população com 65 anos, que era de 12 anos em 1980, aumentou para 18,4 anos em 2015. Nesse sentido, a idade mínima de aposentadoria no Brasil já deveria ter sido atualizada.
..."

Por que 65 anos? Sim, aos 65 anos aumentou, como em todas as faixas etárias, mas se eu chegar lá. Porque eu teria que começar a recolher aos 16 anos para decorrer 49 e chegar aos 65 anos aposentado com 100%. Aos 16 a expectativa de vida é de mais 61, totalizando 77 anos e não 65 + 18,4 = 83,4 anos com ele nos induz a pensar. Se eu não começo cedo eu não termino cedo, certo? A menos que ele queira que eu me aposente antes, sem os 100%, um pé na cova, como diriam. E quem morre antes, no caminho, não conta nessa história? Preciso recolher 49 anos para receber 12, essa é a conta, se começar aos 16 anos.
O que ele escreveu não é a justificativa direta para atualização, mas sim uma falácia, para nos induzir ao erro. Pode-se justificar sim a necessidade, mas não dessa forma. Nos remete a aposentar aos 70 e faz as contas do 65, promete resgate até os 83 quando teremos até os 77.

Oras, a nova lei já é ruim o suficiente para nos prejudicar e tirar nossos direitos já adquiridos, não precisa nos fazer de imbecis toda santa vez. É 7x1 que não acaba mais.

28 fevereiro 2017

Green Koo

O mundo parece pender novamente para o Dark Side já a algum tempo. Aqui no nosso cantinho sulista parece que piorou muito. Não se pode mais falar que é contra o racismo, homofobia, misoginia, xenofobia e outros preconceitos hediondos que passa a ser considerado de esquerda e PTista. Obviamente, para qualquer animal que raciocine, não se pode encarar esse modo de pensar uma coisa lógica ou racional, no entanto a cegueira é tamanha que não parece ter remédio. Virou crime inafiançável ser de esquerda e ser de esquerda passou a ser considerado PTista. Torna-se inexoravelmente e imediatamente um ladrão repugnante. Não se consegue mais usar a principal característica humana, a que nos separa de outros animais, que é a capacidade de distinguir, diferenciar, discernir, enfim, pensar, raciocinar. Se bem que não considero isso o nosso forte perante os outros, face a nossa responsabilidade na iminente destruição do planeta, haja vista.
A revista Veja coloca em sua capa um casal de negros, o Oscar premia filme de negros com tema homossexual e pronto: se escancara nas redes sociais todo o ranço, que era antes camuflado, contra a esquerda, a infeliz defensora dos direitos humanos. Como se isso fosse errado e como se fosse coisa de esquerda. Incrível! Sabem o que significa direitos humanos? São os direitos que nós, humanos, temos para nos garantir um nível mínimo de humanidade. Só isso. Se ainda não consegue perceber o que é humanidade, acredito que realmente não pertença a essa raça. Se acha que alguém ser ou pensar diferente de você é coisa estranha, de outra raça, comece a desconfiar que você, talvez, possa ser.
Aqueles seres hipócritas que viviam nas sombras aproveitaram de oportunidade que se apresentou e saíram de suas grotas, revelando-se. Agora xingam, protestam, agridem, reprimem e fazem todas aquelas coisas que sabemos que os inquisidores totalitários gostam de fazer. Eu queria mesmo é que voltassem para lá e continuassem a fingir ser o que não são, já que revelados, mergulhados em sua hipocrisia sem machucar ninguém moralmente ou até fisicamente. Vamos ter que esperar um novo ciclo para a volta do pêndulo. Um pêndulo que parece desequilibrado, demora mais do lado direito que do esquerdo. Há quem prefira viver o lado negro de novo e parece que é modinha novamente.
Paciência. Vamos rir com o cu verde na TV enquanto isso.

Voto duplo: uma melhor opção.

Começo aqui uma campanha para a mudança na forma de votar para cargos eletivos em todas as instâncias governamentais: VOTO DUPLO.

Método:
Quando votar, em todas as eleições para todos os cargos, votar em dois candidatos preferidos ao cargo pleiteado. Ex.: dois presidentes, dois deputados, dois prefeitos, dois vereadores, etc.. Não se excluir a possibilidade do voto em branco ou nulo no segundo candidato.

Benefícios:
1) O candidato eleito seria o de consenso sempre. O eleitor poderia ter o segundo em preferência para escolher caso o primeiro não seja o escolhido pela maioria. Assim sempre o candidato que teria a maioria seria passado pelo crivo das preferências opcionais do povo;
2) O candidato teria que voltar sua campanha para mostrar que é a melhor opção e não que outro é pior, pois se o fizesse haveria sempre um outro ainda. Gastaria verba e tempo ineficientemente pois teria que atirar em todos os outros, pois todos passariam a ser o adversário opcional, não somente o segundo. As campanhas voltariam seus objetivos a destacar o melhor e não o pior;
3) Economia enorme financeira / logística / temporal: evitar-se-ia gastos de todos os modos com o segundo turno nas grandes cidades, governadores e ou presidentes;
4) O eleitor não poderia alegar que o candidato eleito não foi o que ele escolhera, ou que foi a oposição que o fizera. Acabaria o voto "útil", pois poderia votar naquele que não votaria para que o primeiro colocado em pesquisas não se elegesse. Acabaria a distorção do candidato sem chances. Seria legitimado pela maioria do "segundo" voto.
5) Aplicação fácil na contagem dos votos. Com formação de ensino médio se conseguiria fazer todas as contas, e muito facilmente alterar os programas computacionais;
6) Fim dos Quocientes Eleitorais e Partidários. Não se justificaria mais, no caso dos cargos legislativos, pois a força dos partidos estariam nos dois votos. Eliminam-se os cálculos mais complicados para o eleitorado. Quem for mais votado assume, não entrariam as aberrações sem voto, pois teriam a chance da segunda opção para fazê-lo.

Riscos:
No caso de candidatos opcionais serem considerado por algum critério "muito fracos", e serem escolhido como segunda opção aos outros fortemente preferidos, poderiam ser eleitos com a minoria da preferência direta. Mesmo assim o eleitor sempre teria a opção do voto branco ou nulo para não escolhê-lo, caso não o considerasse absolutamente uma opção desejada.

Conclusão:
Não imagino argumento contrário suficientemente forte para não aplicação do sistema a não ser a própria inércia do sistema atual. A simplicidade do método e o objetivo claro não deixa dúvidas aparente quanto a ser democraticamente mais equilibrado que o atual.

24 setembro 2016

Candidatos que pulam pra outro galho.

Tive a curiosidade, como sempre, de buscar no sítio da internet do TSE as informações sobre os candidatos aos cargos eletivos em Jaú. E como de outras vezes fui procurar pelo em ovo, como diriam os mais próximos. Não sossego. Enfim...
Dos candidatos a vereador (268) que haviam na lista do TSE, 182 se registraram em 61 tipos de ocupações listadas possíveis, mas 86 deles marcaram a ocupação como "outras". Sempre me pergunto que ocupações são essas que não estão naquelas 61. E olha que tentei imaginar várias delas, mas estão lá nas 61. Talvez se tivessem as opções "desocupado" ou "nenhuma" eliminaria boa parte desses "outras". Bom, o cara deve saber explicar no que se ocupa, mas por vias das dúvidas quer trocar essas "outras" por vereador. Ganha bem pra c...
No que se refere as distorções de representatividade adivinha se não se confirmam as óbvias: 80% são brancos e 68% homens. Não há como negar que vão legislar com o peso desses atributos entortando mais ainda essa sociedade já troncha de desigualdade. Casados são 57%, solteiros 30% e outros 13%.

Quanto à formação escolar segue uma tabela que fiz:

FORMAÇÃO POR PARTIDO
A coluna de ponderação calculei da maneira que o peso de cada coluna à direita é a soma dos pesos das duas anteriores à esquerda (Fibonacci) e a ordem descendente das linhas é por quantidade de candidatos por partido. Essa ponderação não relativiza partido contra partido, a quantidade de candidatos por partido difere muito, mas considera dentro de cada um sua formação acadêmica. Analisem com suas idiossincrasias, tão em moda no país que nos encontramos, imponderadamente dividido nas suas próprias.
Acho até que o espectro da coluna total não é tão ruim.

Entretanto, o que me sufoca é a tabela abaixo.


Dos 17 vereadores candidatos à reeleição 10 trocaram de partido, inclusive o candidato a prefeito!!! Praticamente 60% deles. O que isso significa?
Responderei a mim mesmo como prática de meditação a respeito de ir até uma urna (lixo) e votar (será que vou?) num camarada. É só um exercício de pensar sobre.
Significa, penso, que partidos que aceitam isso e candidatos que pulam de galho em galho não tem ideologia. Acho até que nem sabem o que é ideologia, pois se soubessem não fariam isso. Não têm programa de governo, ou se têm, nem fazem ideia do que isso representa e, pior, não seguem. Ou é tão amplo que pode-se fazer qualquer negócio. Acho que nem leem o tal programa, se é que funcionalmente saberiam seguir e interpretar o que está escrito nesses programas. Tenho dúvida, não afirmaria isso. Não têm noção do que o partido propõe como grupo político. Cada um faz o que lhe dá na telha. O único compromisso aparente é com a cobiça pelo cargo e pelo salário. Tanto que não desistem de seus aumentos e valores muito acima do que a iniciativa privada pagaria para tamanha ineficiência dos serviços que prestam.
Agora mudam de partido porque os seus anteriores se comprometeram com uma imagem que no momento não lhes convém ou beneficia para o pleito, é isso? Largam os galhos totalmente embosteados com a caca que fizeram e vazam. Tivesse um outro partido se dado bem, correriam feito um bando de macacos para o outro galho. Uma imensa vergonha, coisa que não têm o menor comprometimento com nada para fazer o que fazem. E justificam da forma que lhe vier à cabeça no momento em que são questionados. De uma simples resposta medíocre à mais estapafúrdia colocação ilógica e ideológica. Uma verdadeira salada de frutas podres. Se na próxima eleição os membros dos partidos para onde debandaram se comprometerem com alguma falcatrua, ou seja, eles próprios, arrumarão outros galhos para novamente pularem. Feito parasitas que sugam o hospedeiro até a morte e depois arrumam outro. Experimente perguntar por que mudaram. Verás que um filho teu foge à luta SIM, igual um veado corre da onça. Falta-lhes escrúpulos, falta-lhes vergonha.
Me pergunto, esses caras agora estão limpos? Pagaram os pecados dos partidos abandonados? Expurgaram suas almas (se é que têm) como se tivessem sido perdoados em uma confissão comunitária para começarem a pecar novamente? Podem ser considerados probos por isso?
Juro que não é pessoal o que escrevo, nem li os nomes dos envolvidos. Nem os conheço pessoalmente, somente fiz um exercício filosófico a respeito dessa debandada. isso é um fenômeno que acontece pelo país todo. Generalizei, mas é óbvio que pode não se aplicar a todos ou a nenhum, mas que me incomoda como eleitor essa atitude, incomoda.

11 setembro 2016

Dividir e controlar é o que importa.

Temos vivido uma crise institucional que se alastra por toda a sociedade que jamais tivemos tão intensa. E o que a faz assim são as formas de comunicação atuais, famigeradas redes sociais virtuais.
Essa crise interessa muito a grupos que não não são os que se digladiam entre si. Por falta de uma visão mais aberta o povo resolveu atacar a si próprio e dividiu-se para ficar trocando farpas de todo quanto é modo, servindo-se principalmente das redes para isso. Dividem-se famílias, colegas, empresas, instituições, e tudo o que se possa dividir. Procuram-se razões de todos os modos para justificar sua posição contra a do outro. Vê-se e ouve-se de tudo, de coisas extremamente coerentes aos mais exagerados disparates. Enfim dividido está e ponto.
A questão é que essa divisão é virtual e só é se torna real por estímulo de quem interessa em que assim permaneça. A divisão é alimentada por quem quer ficar fora do foco e reinar sem ser incomodado, pelo menos com uma intensidade menor do que deveria ser. Estamos aqui embaixo discutindo coisas já discutidas, plenamente resolvidas e que deveriam ser executadas pelo governo em seus três poderes, no entanto alimentam o povo com futricas sobre tudo isso de novo, e de novo, e de novo até esgotar. Então colocam uma nova questão já resolvida no meio da confusão para que ela cresça. E assim vai.
Chega. É hora de acordar. Somos um povo só. Já sabemos disso. Se estivermos unidos voltamos a nossa vista para quem realmente precisa ser vigiado: os poderes estabelecidos. Queremos a mesma coisa, os dois lados. Se perguntarmos o que as pessoas querem elas dirão a mesma coisa. Por que então estão brigando? Porque estão vendadas, cegas de ódio e paixão estimuladas. Isso não é racional.
O dinheiro é quem manda na parada e assim os caras do dinheiro lhe servem.  Políticos, imprensa, bancos e agora os provedores e servidores de internet são seus maiores seguidores. Sempre foram. Rezam nessa cartilha e fazem de tudo para que o povo também o faça. Então não sejamos ingênuos em pensar que seja o acaso é que nos fornece os temas para a divisão do povo. Eles são pensados pelo dinheiro. Não sejamos ingênuos em pensar que realçar nossas diferenças ideológicas para provocar divisão cai do céu.
Ser mais de esquerda ou de direita,  assim como optar por um lado pra torcer é coisa pessoal, não coletiva. É questão de preferência, de escolha individual, e isso não é coisa que se discuta. Pode-se tentar justificar seu modo de pensar, mas não impor. Se colocamos nossa paixão em fazer com que o outro prefira a mesma coisa não vai dar certo. E é justamente o que os donos do dinheiro fazem, estimulam esse conflito inconciliável. Não há saída pra isso a não ser uma guerra em sua última instância. mesmo assim serve ao dinheiro belicista.
A democracia nasceu procurando uma solução para os conflitos, achar uma forma de se governar que seja menos frustrante possível. Fazer pela maioria, contemplando as minorias. Isso já foi resolvido e pensado. Estamos querendo reinventar a roda? O governo tem que governar e é com ele que temos que conversar. Tem que fazer aquilo que nós todos queremos e que queremos igualmente, ambos os "lados" (virtuais).
Paremos com essa divisão, paremos com esse conflito, porque em nome desse conflito eles acabam nos ditando como fazer as coisas e não nós a eles. Nos prendem, nos batem e nos fazer calar para que não causemos aborrecimento à coletividade. Que coletividade é essa? A deles, lógico. Não poderemos nos distanciar de seus interesses e portanto fazem-nos ficar enclausurados em nossas diferenças para manter o controle. Dosam as notícias, colocam os temas em nossas bocas e acabamos nos deixando levar por emoções pessoais facilmente manipuladas e conduzidas a onde querem chegar.
Estamos discutindo com o governo onde tem empregado seus esforços para nos garantir maior bem estar? Estamos cobrando deles melhor forma de fazer isso? NÃO. Estamos aqui embaixo embasbacados em ofender um ao outro e despedaçar nossas amizades e relações pessoais. Quando achamos que é uma questão de corruptos, não é. É mais pra cima, vem muito de cima. Eles também são frutos do interesse do dinheiro. É sempre mais em cima.
Enfim, chega
SOMOS DIFERENTES E ISSO NÃO IMPORTA. O QUE IMPORTA É QUE SOMOS IGUAIS.

14 maio 2016

O demo que mora em mim.

      O demo que mora em mim é o demo crático. Com tudo o que temos passado no Brasil ponho-me a policiar meus pensamentos e concluo que para viver nesse mundo haveria de ser de outro mundo. Ter amigos sem dar muito significado às suas ideologias para poder mantê-los nas conversas insignificantes e rir. E acho que isso sirva pra eles também quanto a mim. Enfim, pra ser feliz há que ser um burro surdo e passivo, ou fingir ser.
      Acho que nem sempre fui de esquerda, ou nem sabia se isso existia quando jovem, ou nem importava pra mim, mas hoje que me importo, se fosse me rotular, me rotularia um "do contra". Com o significado de esquerda popular, do menor. Não aquela esquerda intelectualizada das universidades. Aquela de boteco.
      E assim pensando acho que o que temos no momento é uma ridicularização maior que todas do regime institucional, se é que tinha,  pelo visto não. Ouço e leio que o Brasil é instável constitucionalmente, mas creio que é justamente o oposto. Sua mudança ou desobediência à constituição não muda. É muito seguro dizer que um regime de governo não se mantenha por muito tempo, pois a regra é subvertê-lo assim que uma classe dominante perca suas regalias e reaja para mudá-la. Não precisa justificativa, não gosta e pronto.
E agora novamente mudou e  "temos um longo passado pela frente" como disse Millor.
      A esquerda brasileira, a que foi ao poder, foi safada em seus vários sentidos. A princípio safada no sentido de dissimulada para obter adeptos, depois no trono no sentido furtivo de se livrar dos compromissos, ai no sentido de trair seus adeptos e depois no sentido de furtar e se locupletar. Tornam-se de direita no pior de seus atributos. Essa esquerda não é a minha certamente.
      Após a ditadura de 64 a esperança da esquerda foi depositada em FHC, que se tornou neoliberal de direita e Lula, um egoico, que praticaram tal caminho e acabaram decepcionando ao final. O que se passa agora é um fortalecimento dos pensamentos de direita beirando o extremo fascismo em parte de seus sequazes e um total desmantelamento da esquerda sem ninguém que se apresente para representar uma facção limpa. Esse crescimento foi estimulado muito pelo fracasso "esquerdista" em executar seus planos e se corromper com o poder.
      O Partido do Trabalhadores, que encarnou o papel da esquerda nos últimos anos, tem sua base nas classes trabalhadoras, mais baixas e muito espalhada pela sociedade, diferentemente da direita. Assim que foi ao poder levou consigo, como dívida e compromisso, essa galera para os cargos possíveis nas diversas hierarquias públicas, pois não pode, ou não quis escolher o melhor na diversidade restante dos partidos e sim somente em quem os apoiou. E se deu muito mal com isso, pois a incompetência e os mal elementos infiltrados no seu meio se aproveitaram da oportunidade para meter os pés pelas mãos e estragar com tudo construído a duras penas.
      Assim, os da direita vem à tona, como sempre desde nossas origens no descobrimento, com suas proposta e a sociedade reage os apoiando como uma massa movida por meios de comunicação favoráveis à mudança por seus próprios interesses particulares como já havia feito antes. E essa mudança se faz, como disse, da forma como convier aos seus propósitos sem se importar se democrático ou não, mantendo a regularidade em subverter.
      Não creio que isso mude para que eu possa ver tamanha a imensidão e profundeza dessa ideologia impregnada na alma brasileira de achar tudo normal. Achar ponderável o imponderável. Negociar o inegociável. A liberdade custa muito caro e é rara na natureza. Dá a impressão de ser farta quando se tem, mas é como a água. Quando lhe falta é que se consegue dimensionar o alcance de sua importância para a qualidade e conforto em nossas vidas.
      O Brasil deveria ter como sua única prioridade acabar com a desigualdade e esse caminho fica à esquerda. Ela, a desigualdade, destrói tudo o que se planeja para uma sociedade que quer ser melhor. Ela guarda no seu bojo a ignorância e não permite acesso ao saber, ao discernir, ao escolher melhor, ao decidir seu futuro. Essa desigualdade não acaba em passe de mágica, seu fim precisa ser estabelecido nas mentes dos brasileiros antes de tudo e precisa ser fomentado por quem está no poder, e o pensamento de direita em seu cerne não pensa assim, não trás isso consigo. Isso não vejo e, talvez, não veja (sem trocadilhos). Colocaram uma enorme placa "proibido conversão à esquerda" logo a frente de nosso caminho.